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segunda-feira, 1 de abril de 2019

NOSSA SENHORA DO BOM DESPACHO DAS ALMAS, CERVÃES- PORTUGAL

NOSSA SENHORA DO BOM DESPACHO DAS ALMAS.
UMA CONSAGRAÇÃO TOTAL- EREMITA JOÃO DA CRUZ.

O futuro fundador do Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho das Almas (nome originário do Santuário, hoje apenas conhecido por Nossa Senhora do Bom Despacho) João da Cruz, nasceu em Bela, Monção, Portugal.
Seus pais eram pessoas muito humildes e piedosas. 
João nasceu no campo enquanto sua mãe estava apanhando erva para os animais. Nasceu em dia de S. João, 24 de junho de entre 1610 1625.

Supõem-se que seus pais fossem "caseiros" que viviam numa casa pertencente a um nobre fidalgo de Monção, António Velho de Azevedo e que este iria mandar para Braga seus irmãos a fim de estudarem, com eles foi também o menino João com 8 anos de idade e que já se revelava muito esperto, vivo, de boa educação e muito piedoso.
Nas oitavas do Espírito Santo, Pentecostes, costumavam os estudantes ir passar uns dias de férias com as famílias. Todas as crianças foram, menos o Joãozinho que ficou com a ama em Braga. Ele sentindo-se só, e com saudades da família, ficou olhando pela porta afora e saiu de casa da ama e foi ao encontro da família. Não deixou recado e foi vagueando pela cidade de Braga, que não conhecia, procurando encontra a direção da casa dos pais. Foi andando, o menino João, sem orientação na direção do rio Cávado em Panoias. Aqui perguntaram seu nome, terra, e pais, mas ele só sabia seu nome e o nome dos colegas de estudo. Como não foi identificado foi acolhido por uma família, desta terra de Panoias.
Aqui esteve pouco tempo porque, ao ter desaparecido dinheiro da casa desta família, logo acusaram o pequeno João. Como este nada dissesse, nem se defendeu, foi colocado de castigo, fechado em casa para que confessasse seu delito. Como ele nada dizia recorreram às ameaças.
a dona da casa descobriu com seus próprios olhos, que foi uma das criadas que tinha roubado o dinheiro. Com esta descoberta o inocente Joãozinho foi posto em liberdade e disseram-lhe que seguisse seu caminho, pelo que continuou a vaguear sem direção seguindo os que passavam o rio grande, rio Cávado. Chegou a Padim da Graça e meteu-se, a atravessar o rio a vau. Desequilibrou-se e caiu ao rio e ia-se afogando. Um homem que trabalhava ali perto conhecido por "homem grande", da freguesia de Cabanelas, foi o salvar. Este precisava de um pastor para cuidar do seu gado e propôs ao Joãozinho ficar com ele para esse fim.
João aceitou e foi muito dedicado e fiel ao seu "salvador" durante os anos em que ali estivera. Aqui, ele se tornou um catequista de outras crianças dando exemplo de bom cristão.

O P. Manuel Cerqueira, de Cervães, era conhecido desta família de Cabanelas e ia muitas vezes a esta freguesia fazer seus sermões. Acontece que se afeiçoou ao Joãozinho e o pediu, com insistência, a seu patrão e assim ele foi servir seu novo amo, para a freguesia de Cervães.
Contava já, João 16 anos, e uma terrível doença lhe sobreveio, doença que o levou, muitas vezes ao delírio. Os familiares do Vigário, P. Manuel, não sabiam mais que fazer ao João porque remédio algum o curava. 
Se a medicina dos homens era ineficaz a medicina de Deus não o era, assim pensou João na sua firme e inabalável fé.
Apanhando-se, certa vez, só em casa e, não obstante a sua fraqueza saiu de casa e foi-se arrastando, caminho fora até à capela de Nossa Senhora da Estrela, em Cervães. Aí falou e desabafou com Nossa Senhora PROMETENDO VIVER O RESTO DA VIDA COMO EREMITA, SE ELA O LIVRASSE DAQUELA INCURÁVEL DOENÇA.

Procuraram o jovem João por toda a parte sem o encontrarem. Finalmente descobriram umas manchas de sangue caídas, aqui e além por sobre as pedras do caminho, o que denunciava uma caminhada bem penosa, na direção da capela Senhora da Estrela. Aí o acharam.
após a volta a casa de seu amo e patrão P. Manuel Cerqueira, começou logo a sentir melhoras. Logo que se viu totalmente curado, disse ao Vigário, seu amo que iria cumprir o voto que tinha feito à Senhora da Estrela. Este tentou, por todos os modos, demove-lo de sua decisão, fazendo crer que seu voto não tinha sido válido porque ele era demasiado jovem para viver como eremita, e que ele não aguentaria esse estilo de vida, mas em vão, ele persistia no cumprimento do voto que fizera a Nossa Senhora.

João da Cruz vestiu o hábito de burel franciscano, inspirado na Regra da Terceira Ordem Franciscana, e foi viver junto da capelinha de Nossa senhora da Estrela. Esta Capelinha pertencia a um médico de Braga chamado Mateus Pereira Bravo e este deu, ao novo eremita, um local onde pudesse aí permanecer. " era seu exercício ir pelas freguesias encomendar as almas do purgatório" devoção que ganhou de quando esteve na casa do Vigário. Estas almas do purgatório, ás vezes lhe apareciam, vestidas de branco.
Tal como S. Francisco de Assis restaurou a capelinha de Santa Maria dos Anjos, o nosso eremita andou pedindo pelas portas dinheiro e material para restaurar a capelinha de Nossa Senhora da Estrela, que estava muito destruída pelo tempo. (Esta capela, mais tarde foi destruída e vendidas suas pedras para casas particulares. do paradeiro da Imagem de Nossa Senhora da Estrela ninguém sabe)
Nesta ocasião, o nosso eremita foi reconhecido por um antigo companheiro de estudos, de Braga que, por sua vez, comunicou aos pais a descoberta de que seu filho era vivo e era eremita. Seus pais correram procurando pelo filho e fizeram de tudo para o demover de sua ideia de viver como eremita, mas, foi em vão, "ERA INABALÁVEL A SUA DECISÃO DE VIVER SERVINDO NOSSA SENHORA, SERVIR AQUELA QUE FORA QUEM LHE VALERA!" Os pais, desolados tiveram que regressar a sua casa, sem aquele que era, seu único filho!
João da Cruz andava vestido de burel, sem manto e descalço. Procurava ele viver uma vida de piedade, de exercícios espirituais e de solidão, mas, no meio da confusão e barulho da aldeia não o conseguia. Os filhos da senhoria a quem pertencia a capela da Senhora da Estrela era muito rebelde e também não lhe facilitavam o sossego. Então resolveu João da Cruz procurar um local ermo e deserto.
Foi em Penaliveira que João da Cruz encontrou uns enormes penedos os quais faziam de gruta. Foi aqui que resolveu ficar. ERA TAMBÉM, AQUI, NESTA GRUTA, QUE ELE VIA RESPLENDORES DIVINOS. Ele falava ás pessoas desses resplendores, mas eles nada viam. Se Nossa Senhora aqui lhe apareceu, não se sabe, mas é de crer que sim. Aqui ele fez um altarzinho a Nossa senhora onde cantava seus louvores e vedou a entrada da gruta.
Ia de porta em porta pedindo esmola e (encomendando), rezando pelas almas.
Aqui viveu algum tempo, mas não muito, porque logo foi descoberto pelos filhos do dono da capela da Senhora da Estrela, que o perseguiram, maltrataram, bateram, destruíram o altarzinho que ele havia feito e tudo puseram por terra.
João da Cruz ficou muito desolado e triste pelo que percebeu que não o deixariam ali sossegado. Resolveu, então, dirigir-se para o Bom Jesus do Monte, próximo de Braga. Aí encontrou outros eremitões incluindo um amigo de infância. Permaneceu aí um tempo, vivendo de esmolas, mas logo foi descoberto pelo medico Bravo, dono da capela da Estrela, que cheio de raiva e querendo vingar-se por ele ter deixado de viver na sua quinta, junto da capelinha, mandou lá emissários a destruir-lhe o abrigo.
Depois de ver a gruta destruída e ter sabido quem foram os autores daquela destruição convenceu-se de que não conseguiria cumprir seu voto de VIVER COMO EREMITA, VIVENDO SÓ PARA NOSSA SENHORA se não tivesse por trás alguém, de boas posses, que o protegesse e defendesse diante da sociedade. 
Assim resolveu partir dali e ir até à casa do Solar dos Azevedos na freguesia da Lama, Barcelos, pedir proteção. Era o ano de 1644. Era esta família uma das mais importantes e antigas da nobreza em Portugal.
Transcrevo aqui, uma suposta conversa entre o eremitão João da cruz e o fidalgo Martinho Lopes de Azevedo, tirada do livro" Cervães e o Bom Despacho"
-"As pessoas pequenas e pobres encontram sempre felicidade em ver- se atendidas por fidalgos de mérito como Vossa Mercê, pelo que, se mo permite, eu lhe falaria daquilo que muito me atormenta.
- "Esteja à sua vontade e diga Vossa Caridade dos motivos desses tormentos, atalhara o fidalgo.
- " Sabe Vossa mercê alguns dos tormentos por que tenho passado. Achei dever agora recorrer a esta casa para nela tomar como protetor a pessoa de Vossa mercê. Será talvez a única maneira de poder CUMPRIR O VOTO FEITO PARA TODA A MINHA VIDA: SER EREMITÃO DE NOSSA SENHORA a quem me apeguei na doença e de quem me não quero afastar na saúde, disse João da Cruz, que continuava narrando ao fidalgo de Azevedo todos os desgostos e contrariedades da sua vida."

Lopes de Azevedo foi mostrando ao eremita os perigos que correria sua casa caso o aceitasse por "protegido" dele pois ele também era amigo do dito médico Mateus Bravo, perseguidor do nosso eremitão pelo que não poderia aceitar.
retirou-se triste João da Cruz.
Entretanto, ele pôs sua esposa, D. Luísa de Sousa, ao par do que se passava. Era ela senhora de grandes virtudes, e que gostava de tomar a seu cargo pobres e desprotegidos. Ela era de vontade que se apoiasse o eremita João da Cruz e naquela noite ela sonhara que naquela fria lapa de Penaliveira, se haveria de construir um santuário maravilhosos, destinado ao culto Divino.
Assim ambos concordaram em aceitar como protegido João da Cruz.

Imediatamente os criados procuraram o nosso eremita que o trouxeram à presença do nobre fidalgo de Azevedo e este lhe disse que o tomava a seu cuidado. Muito feliz ficou nosso eremitão.
o Nobre Azevedo lhe perguntou
- E agora que deseja mais Vossa caridade fazer?
- Gostaria de tapar o boqueirão da gruta de Penaliveira para aí continuar a viver. Ansiava, igualmente edificar um oratório onde ansiava colocar a Imagem de nossa Senhora do Bom Despacho, visto Vossa mercê ter feito bom despacho a meu pedido de ser meu protetor.
- Mas Vossa caridade tem dinheiro para as obras?
- Não, mas procurarei arranja-lo quanto antes.
- Bem, vou pôr-lhe á sua disposição alguns valores, vá empenha-los e arranje o dinheiro de que precisa. e no primeiro dia de agosto iremos dar início às obras, certo?

Imediatamente ele começou a fazer todas as diligencias para conseguir o necessário para a capelinha de Nossa senhora do Bom Despacho, inclusive foi a Braga encomendar uma para a capelinha.
As obras começaram no dia exato e rapidamente a ermidinha ficou pronta e logo se celebrou aí a primeira missa. Com esta celebração começaram a chover esmolas que o eremita João da Cruz aplicou a aumentar a ermida e construindo capelas anexas onde colocou imagens referentes à Paixão de Cristo.
O eremita João da Cruz colocou a imagem de Nossa senhora do Bom Despacho entre dois penedos. Ai começaram a ocorrer peregrinos até aos dias de hoje. esta devoção foi levada deste lugar Santo para outras partes do mundo inclusive Brasil. No Brasil tem algumas igrejas em que este título é o orago, especialmente no Mato Grosso e em Minas Gerais.
SIGNIFICADO DE NOSSA SENHORA DO BOM DESPACHO.
“Bom Despacho” tem sua origem no mundo jurídico, onde “Despacho” significa decisão, encaminhamento, resolução dada por um juiz. Tal decisão, no mundo jurídico, pode ser boa ou ruim, dependendo do entendimento do juiz. Por isso, os católicos de Portugal começaram a venerar Nossa Senhora com o título de “Bom Despacho das Almas” (este era o título original da devoção. Tal título significa que, por sua intercessão, as almas dos falecidos conseguirão obter um “Bom Despacho” do supremo Juiz, que é seu Filho Jesus Cristo, encaminhando-as para o céu depois da morte. Assim, Nossa Senhora do Bom Despacho é uma devoção mariana que pede pelos fiéis falecidos. Sabendo que todos somos pecadores, pedimos a Nossa Senhora que obtenha para nós um “bom despacho” no momento de nosso julgamento.
A devoção a Nossa Senhora do Bom Despacho se origina com o pedido de intercessão da Virgem do Bom Despacho pelas almas dos falecidos.
Esse é o motivo pelo qual a imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho é representada originalmente tendo Nossa Senhora segurando o menino Jesus com seu braço esquerdo. Jesus, por sua vez, segura um globo terrestre em suas mãos, simbolizando seu poder de julgamento sobre o mundo. Nossa Senhora segura em sua mão direita uma pena (ou caneta) simbolizando o ato de “assinar o despacho”. A caneta em sua mão direita simboliza o poder de intercessão que Deus deu a Nossa Senhora. (Há várias imagens com representação diferente.)

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO BOM DESPACHO.
“Gloriosa pura imaculada Conceição Maria do Bom Despacho, vós sois mais brilhante que as estrelas mais claras que a lua mais elevada no Céu. Sois nossa mãe nossa advogada perante o tribunal Divino e aqui nas nossas dificuldades sois a nossa protetora, a luz no caminho da verdade, da caridade. Do amor ao próximo.
Nossa Senhora do Bom Despacho, com o coração cheio de amor, despachai todo mal para onde for os desígnios de Deus, para que não caiamos em pecado, vícios e perigos.
Dai aos nossos corações e as nossas mentes força, energia para seguir a nossa missão com a igreja, com serenidade ao Vosso Divino Filho e a Nossa Senhora e a vós mãe e aos nossos irmãos para sempre. Amém.”





















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